Avanço na gestão do lixo requer trabalho estratégico de informação
Isadora Camargos*
A nova legislação sobre os resíduos sólidos urbanos, entre outras tantas normas, afirma que lixo é um problema de todos. O que se pretende é uma mudança de comportamento de toda a sociedade para que, desde a casa de cada um até a destinação correta e as formas de geração de renda, o lixo seja devidamente encaminhado e tratado. Tarefa difícil. No Brasil, 64% dos municípios ainda despejam o resíduo em lixões sem nenhum tratamento. Em Minas Gerais, que desde 2002 adota o Programa Minas sem Lixões, esse índice é de cerca de 40% dos municípios. E para quem ainda convive com um lixão sem grande repulsa, a pergunta é o que serve de argumento para uma mudança radical de comportamento, o que inclui menos desperdício, coleta seletiva em casa, reaproveitamento, cobrança de postura dos governantes, enfim, uma mudança de concepção sobre tema.
Os urubus e o mau cheiro costumam ser bons argumentos, mas não é à toa que os lixões normalmente ficam longe dos centros urbanos. A lei pode prever multa. Os governos podem dar incentivos e verbas. Os catadores de resíduo podem argumentar que ali encontram riquezas. Mas nada disso é garantia de mudança de gestão ou comportamento. Normalmente, as pessoas precisam acreditar, ter uma convicção, para mudar de postura.
É aqui que a informação faz toda a diferença. A questão é saber qual a organização desse conjunto de informações deve ser dada para cada público para que todos encontrem os seus interesses e construam suas convicções. Numa região pobre, onde os problemas de infra-estrutura orientam, influenciam e às vezes determinam as ações cotidianas, é difícil convencer um governante a separar parte da restrita verba para fazer a gestão do lixo. Por outro lado, numa região de bom desempenho econômico, costuma ser complicado convencer um município a se consorciar com os vizinhos e assim possibilitar que toda a região faça a gestão adequada do lixo. Para cada caso, é preciso conhecer a cultura local e a partir daí encontrar os argumentos adequados e decidir a melhor forma de informar. Só assim será fortalecida a percepção de que as questões ambientais e sociais estão interligadas.
Talvez um município mais pobre precise compreender a estreita relação entre gestão do lixo e agricultura, para saber que não deve contaminar o solo, que a compostagem doméstica traz benefícios para as famílias, que a reciclagem gera renda, e que a coleta seletiva costuma ser mais barata que a convencional porque há uma significativa redução do volume de lixo gerado. E o município próspero precisa compreender que a água contaminada pelo lixo ao lado leva as impurezas para os seus cidadãos e que pensar regionalmente pode possibilitar uma estruturação ambiental mais adequada com benefícios para todos. A gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos é um desafio enorme para todos, e a informação estratégica de qualidade é um dos pilares para essa conquista.
*Isadora Camargos é jornalista, doutoranda em Linguística pela PUC-Minas.
Um comentário:
que bom saber essas noticias suas...pelo blog. beijo, suzana
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