terça-feira, 8 de julho de 2008

Mãe natureza

“Parto é um processo natural, e não racional”. Escutei essa frase do meu obstetra na primeira consulta após o tão apaixonante positivo. Hoje, no nono mês de gestação, vejo como a mãe natureza vem me ensinando a ser fêmea. Nada de super mulher, com carreira, alto salário, boa de briga, com topete e muito peito para encarar a vida. Apenas fêmea, no que existe de mais instintivo e docemente forte.
Desde o começo o meu corpo me disse o que queria. Tirei o diu porque era a hora. Não sabia explicar e parecia chilique de mulher para convencer o marido. Mas era uma estranha convicção de que simplesmente era a hora. Poucos dias depois aqui estava o meu embriãozinho, tão pequeno e tão imponente.
A sensação de ver os dois risquinhos naquele palito é indescritível. Até então eu achava que só comprava testes que não eram premiados, porque sempre vinham com um risquinho só. Até que eles vieram, anunciando a transformação. A essa altura eu já estava verde, enjoava por tudo e recebia os primeiros sinais do meu corpo de que a vida seria bem diferente nos próximos meses.
Regra número um: comer os alimentos certos. Sendo que certo passou a ser o que o corpo pede. E como pede!!! No primeiro trimestre eram as folhas verdes, no segundo as frutas e no terceiro o côco. Sim, côco, aquele que eu nem comia agora é uma fixação na minha vida.
No dia-a-dia, os cuidados com a pele e os sustos diários com as mudanças no corpo. Sumiu a cintura, aumentaram os seios, escureceram os mamilos, incharam as pernas, chegou o colostro. Coisas da mãe natureza. E o meu lado racional em pânico com a balança, desesperado ao ver as roupas se perderem, incomodado com a mudança no olhar do marido, comovido com a compreensão das pessoas. O meu lado racional não entendeu nada, apenas que ele tinha perdido a vez.
Esses nove meses estão me preparando para o que está por vir. Nos dias atuais, ser mamadeira é a profissão que me parece mais desafiante de todas, porque exige uma sabedoria que não está nos livros. Escuto muito a minha avó materna e sinto a presença da minha avó paterna. Elas são minhas guias nesse estranho universo feminino. Só as fêmeas se doam para a cria e buscam a harmonia quando tudo parece um caos. Só as fêmeas se despem de toda a vaidade para a chegada de um filho e se recriam depois, para serem outra vez fêmeas, mas do outro lado da moeda.

Um comentário:

Isadora disse...

Quase 3 anos depois, leio isso e tenho vontade de chorar... Ainda estou patinando nessa história, embora hoje com menos aflição. A mãe natureza deve ter me ensinado alguma coisa.